Wild: A Journey from lost to found

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Wild é a adaptação cinematográfica do livro autobiográfico de Cheryl Strayed, Wild: A journey from lost to found on the Pacific Crest Trail. O filme, de 2014, mereceu uma nomeação ao Oscar de Melhor Actriz a Reese Witherspoon mas, no entanto, parece não merecer ser estreado nas nossas salas de cinema. Cabe assim ao espectador esperar que o filme apareça no clube de vídeo da sua box ou então vê-lo num website de streaming de filmes (mas não leram isso de nós 😉 ).

O filme inicia-se a meio do caminho do Pacific Crest Trail (PCT), caminho este que liga a fronteira dos Estados Unidos com o Canadá à fronteira com o México. Lá, Cheryl, a personagem tão bem interpretada por Reese Witherspoon, encontra-se numa situação de puro desespero. Depois de largos quilómetros caminhados repletos de adversidades, especialmente para uma caminhante amadora como ela, vemo-la numa imagem um tanto ou quanto gore a arrancar uma unha do pé que já estava infectada de tanto ter andado com umas botas demasiado pequenas para os seus pés. Como se isso não bastasse, fica sem uma bota que cai pela montanha abaixo. A partir desta cena, voltamos ao início da viagem: ao motel onde Cheryl pernoita pela primeira vez antes de seguir caminho pelo PCT. Assistimos à luta epopeica de Cheryl com a sua mochila ao carregá-la com tudo o que era necessário e também acessório. Apenas mais tarde ela aprende a desprender-se do acessório, como se dos pesos metafóricos que carregava nos seus ombros se tratasse. Até lá, a Monster – alcunha dada à mochila devido à sua enormidade – é a sua maior companheira viagem adentro. Ao longo do percurso do PCT, são-nos mostrados flashbacks da sua vida anterior, da sua relação com a sua mãe, com o seu marido ou mesmo com o seu irmão… E também como tudo se foi desmoronando a partir do momento em que foi diagnosticado um cancro à sua mãe, levando inevitavelmente à sua morte. A partir deste período até ao momento em que Cheryl dá o primeiro passo no PCT, inicia-se aquele que é o período mais negro e auto-destrutivo da vida daquela mulher que mais aparentava ser uma menina desamparada sem saber para onde ir. Até que decide percorrer o PCT sozinha. Acompanhamos, assim, as aventuras de uma backpacker amadora, os encontros e desencontros com outros “colegas” caminhantes e o percurso mais longo e doloroso deles todos: o que tinha de ser feito dentro de si. Estamos perante uma mulher cuja bússola interna se encontra sem norte mas que, para emendá-la, precisa de seguir em frente. Nem que para isso tenha de preencher o corpo de nódoas negras, de perder unhas dos dedos dos pés, de perder uma das suas botas, de saltar parte do percurso por causa da neve ou de questionar por diversas vezes “o que é que eu estou aqui a fazer?”. Mas ao fim e ao cabo, são todas estas dúvidas que o caminho lhe coloca, todas estas desventuras e adversidades que a ajudam, finalmente, a perdoar-se e a encontrar-se.

How wild it was to let it be.

E no final do filme, pergunto-me se cada backpacker que há por esse mundo fora partiu também com o coração às costas. Se o guarda na mochila fechado às sete chaves ou se o usa como uma medalha de honra, com todas as cicatrizes provenientes de cada guerra do amor. Se o deixou na sua terra em pedaços e, por isso, partiu em busca de adesivo ou de uma agulha e de linha para conseguir remendá-lo. E se assim foi, se conseguiu remendá-lo com todas as cores do mundo como se de uma manta de retalhos se tratasse. Ou se a cor mais garrida era a que ficou na sua terra. Pergunto-me isto sobre os backpackers porque quem parte à procura de nada é porque tem o seu tudo na sua terra. Ou teve.

Filme: Wild
Director: Jean-Marc Vallée
Ano: 2014

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