Stranger things

Stranger Things é uma série de televisão americana de ficção científica e fantástico criada, escrita e realizada pelos irmãos Matt e Ross Duffer. A história tem lugar em 1983 na pacata cidade de Hawkins no estado de Indiana, quando Will o filho de Joyce (Winona Ryder) desaparece misteriosamente. Paralelamente às buscas da polícia, os amigos do rapaz desaparecido: Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) decidem fazer uma investigação por conta própria e acabam por descobrir experiências ultras-secretas do governo, forças sobrenaturais e uma menina estranha, que possui uma tatuagem com o número onze no pulso.

Antes de mergulhar de cabeça na terceira temporada de Stranger Things, eis 5 razões que explicam o porquê do sucesso daquela que é sem dúvida até à data, a melhor série original da Netflix:
1- Argumento excelente, ritmo impecável e duração perfeita (a primeira temporada tem 8 episódio e a segunda tem 9)
Ao contrário das séries da TV cabo de longa duração com temporadas extensas e intermináveis, onde há “fillers” (como são chamados os episódios feitos para encher chouriços e preencher os buracos narrativos entre um evento e outro na mesma temporada), em Stranger Things todos os episódios são necessários para contar a história. Há uma narrativa com princípio, meio e fim, uma história compacta e completa – que nos dá a sensação de estarmos a ver um longo filme.
2- O talento, a cumplicidade e a inacreditável química do elenco adulto e do elenco infanto-juvenil

Dustin, Mike, Will e Lucas, os nossos heróis.

A começar por Winona Ryder (espectacular no papel da mãe desesperada) e David Harbour (no papel do atormentado Xerife Hopper) a acabar nos miúdos que são os verdadeiros protagonistas, Stranger things é servida por interpretações excelentes de um grande elenco, com uma inacreditável química e uma cumplicidade que se estende aos espectadores como há muito não se via numa série de tv.

3- Cinematografia e Direcção de Arte, a nostalgia dos anos 80

Passada em 1983 e 1984, a série é uma verdadeira declaração de Amor aos anos 80 e à infância dos seus criadores com muitas referências à cultura Pop da época. Dos jogos de computador Atari às roupas, cabelos e banda-sonora, as inúmeras referências levam o público numa viagem nostálgica pelo tempo, homenageando clássicos do cinema fantástico como Poltergeist, E.T., Evil Dead, Gremlins, Ghostbusters e Os Goonies. No entanto, apesar de ser divertido identificar as inúmeras referências aos filmes de fantasia dos anos 80, essas referências são meros marcos, não se duvide que Stranger Things recria o género mas simultaneamente cria o seu próprio universo original conseguindo ela própria ter um culto merecido e conquistar mesmo uma nova geração de espectadores do século XXI que não tem, quaisquer referências dos anos 80.

4- A perfeita manipulação das nossas emoções e medos

Steve e Dustin a caçar Demogorgons (com cabelos impecáveis) desde 1983!

Não é fácil casar humor, mistério, suspense e terror e embrulhar tudo no drama com esta mestria. Entramos em Stranger things curiosos pelo mistério que há para desvendar, mas ficamos porque nos conseguimos ligar emocionalmente às personagens, deslumbrados pela força da amizade de Will, Mike, Lucas e Dustin que nos fazem rir com eles, e com cada citação a Star Wars e a Dungeons & Dragons, e nos comovem com cada abraço, lágrima e vitória.

5- O regresso do nosso olhar inocente

Numa era em que os efeitos especiais e os efeitos visuais atingiram uma sofisticação inimaginável nós espectadores do séc. XXI já dificilmente nos deixamos surpreender e muito menos deslumbrar por quaisquer efeitos que nos sirvam, e eis que os irmãos Duffer nos lembram algo que já tínhamos esquecido sobre nós próprios como espectadores: a inocência assusta-nos mais que a sofisticação.
As crianças de Stranger Things têm as mentes abertas e as suas imaginações ainda não foram afectadas pelo cinismo ou “corrompidas” pela experiência da vida. Todos nos identificamos com elas ou pelo menos no caso dos adultos mais sofisticados, a nossa criança interior identifica-se com eles e vimos o mundo através dos olhos deles. (Sem a voracidade da internet, a intrusão dos smartphones, e a distracção das conversas e discussões intermináveis e banais nas redes sociais, encontramos/reencontramos os grupos de amigos em pessoa, brincamos na rua, andamos de bicicleta e passamos tardes a jogar jogos de tabuleiro e a alimentar a imaginação e o faz-de-conta).

Pequena obra prima cheia de amor pela cultura pop, pela ficção científica e pelos anos 80 (década de ouro para a própria ficção científica no cinema, quando Hollywood fervilhava com ideias e possibilidades e havia sempre excelentes filmes para toda a gente ver e realizadores criativos e ansiosos por puxar pela imaginação do público).
Como nenhuma outra série Stranger Things captura a nossa imaginação, transmite e homenageia esse espírito de inocência, curiosidade e descoberta da infância. Muitos tentaram, mas só os irmãos Duffer conseguiram.

No ano em que se encerram as sagas de Game of Thrones, Vingadores e Star Wars e antes de mergulhar na terceira série de Stranger things uma coisa é certa: tão cedo não haverá uma época incrível como esta para se ser apreciador de cultura geek-pop.