Sherlock

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Sherlock Holmes e a sua família adoptada

Durante as viagens de comboio entre as cidades de Cardiff (onde trabalhavam nas filmagens da série de culto Dr. Who) e Londres, o argumentista Steve Moffat e o actor/argumentista Mark Gatiss ambos amigos de longa data e ambos fanáticos de Sherlock Holmes, começaram a brincar com a ideia de trazer o famoso detective do séc. XIX para o século XXI. Contaram a ideia à mulher de Steve Moffat – a produtora de televisão Sue Vertue- e esta num rasgo de génio sugeriria a ambos que o fizessem eles antes que outra dupla de criativos se lembrasse de o fazer.
Desde o primeiro momento os 3 só consideraram um actor para o papel de Sherlock Holmes: Benedict Cumberbatch. Cumberbatch pisava há alguns anos os palcos dos teatros londrinos com sucesso, fazia dramatizações radiofónicas para a BBC Radio e tinha interpretado alguns papéis principais em séries e telefilmes (entre os quais uma premiada biografia de Hawking – o mesmo papel com o qual ironicamente o seu amigo Eddie Redmayne lhe “roubaria” o óscar em 2015) mas no essencial era desconhecido do grande público.
O papel de John Watson, melhor amigo e parceiro de aventuras de Sherlock foi mais difícil de atribuir. Inúmeros actores fizeram testes sem sucesso até Martin Freeman aparecer. O seu Watson honesto e confiável, e o Holmes de Cumberbatch estranho e anguloso tiveram uma química imediata. O resto como se costuma dizer é história.
A série escrita pelos 2 fanáticos dos livros de SH homenageava o universo do escritor Arthur Conan Doyle, agradando muito aos fãs deste, mas ao mesmo tempo dava-lhe um twist moderno e actual reinventando-o e dando-o a conhecer a novas gerações de jovens (que nunca tinham lido nenhum livro do Detective) mas que se identificaram imediatamente com um homem que usa a inteligência, a dedução e tal como eles as tecnologias como os Gps’s, a internet, computadores, os smartphones com toda a naturalidade.
A série tinha um ritmo rápido, era extremamente bem escrita e bem realizada, assente em sólidos valores de produção Ingleses e num fino e subtil humor Britânico (marca dos 2 escritores referidos).
Quando em 2010 o primeiro episódio terminou em Inglaterra as reacções de entusiasmo explodiram nas redes sociais. A série Sherlock era um êxito instantâneo de público e crítica tornando os seus actores famosos de um dia para o outro. Benedict Cumberbatch – para grande surpresa e consternação do próprio – transforma-se-ia numa estrela nacional e num símbolo sexual à escala mundial título que o actor ainda hoje declina graciosamente.

Conheça as personagens e o elenco:

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Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch)- Hiper Inteligente, observador, mordaz, abrasivo, arrogante, manipulador Sherlock tem um tal poder de observação e atenção ao detalhe, uma capacidade de raciocínio e dedução lógica tão acutilantes que com um simples olhar consegue saber tudo o que quiser sobre uma pessoa (inclusivé e particularmente aquelas coisas que essa pessoa não quer que ninguém saiba).
Como a sua língua é tão afiada como a sua mente Sherlock com a sua insensibilidade e falta de tacto tem a capacidade de cortar uma pessoa às postas e reduzi-la a nada. Mas como ele próprio esclarece ele não é um psicopata é um sociopata altamente funcional. Embora haja uma grande diferença entre ambas as coisas, quem teve o azar de ter sido vítima do seu escrutínio e dos seus requintados insultos está-se a marimbar na diferença e quer é partir-lhe a cara.
Por vezes infantil, Sherlock é impaciente e implacável com todos os que não conseguem acompanhar a sua inteligência – categoria que inclui todos os seres humanos no planeta Terra. Sherlock diz que despreza o sentimento, as emoções e as relações interpessoais mas como sociopata tem a sua maneira muito própria de amar e é extremante protector “das suas pessoas”.
É o único Detective Consultor no mundo profissão inventada por ele próprio.

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Dr. John Watson-(Martin Freeman)
Médico que esteve na Guerra do Afeganistão, Watson ama a adrenalina e o perigo, e é um exímio atirador. Tem a disciplina de um soldado e consegue manter a cabeça fria em situações de extremo stress. É sensível aos sentimentos dos outros, tem bom coração e muita empatia com as pessoas. Leal, admira Sherlock mas exaspera-se com a indiferença com que este trata os outros, funcionando sempre como a consciência de Sherlock e sua bússola moral. John e Sherlock vivem juntos no nr. 221B de Baker Street o que leva as pessoas a assumir que eles são um casal, mas como o próprio esclarece ele não é Gay.
É autor de um blog de muito sucesso onde conta as aventuras de ambos no combate ao crime. Tem um fraquinho por mulheres bonitas e muita dificuldade em terminar um encontro com elas.

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Mycroft Holmes- (Mark Gatiss que é também co-criador e argumentista da série)
O irmão mais velho de Sherlock é ainda mais inteligente que este, facto que ele gosta de esfregar na cara lembrar educadamente ao irmão em cada oportunidade que tem. A dinâmica entre os 2 irmãos é uma das maiores fontes de divertimento da série.
Mycroft Holmes move-se nos bastidores do Poder político e militar e nas altas esferas do Governo. Não acontece nada em Inglaterra que ele não saiba mas como ele próprio esclarece ele só ocupa uma posição de menor importância no Governo Britânico.
A sua constante vigilância e preocupação escondem o grande afecto que tem por Sherlock (que ele ainda vê como uma criança que tem de proteger) e que ele não consegue demonstrar de outra maneira.

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Mrs. Hudson- (Una Stubbs)
Praticamente desconhecida em Portugal Una é uma actriz muito querida do público Inglês. É a Senhoria maternal de Sherlock e John. Assegura-se que eles têm comida, limpa-lhes o apartamento e esvazia-lhes o frigorifico das experiências científicas de Sherlock mas como ela própria esclarece não é a Governanta deles. Como as outras personagens de Sherlock a respeitável Mrs. Hudson tem um passado “interessante”.

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Greg Lestrade- (Rupert Graves)
O aliado de Sherlock na Scotland Yard. Sherlock chama-lhe muitos coisas mas como ele esclarece o nome dele é GREG.
Como a maioria das pessoas o Detective Inspector sente ao mesmo tempo uma grande admiração e uma grande frustação por Sherlock. Quando recomenda Sherlock a outros colegas da Scotland Yard que têm casos complexos para resolver, Lestrade avisa-os ” Vou-te enviar uma pessoa, ouve tudo o que ele diz e se puderes tenta não o esmurrar“. Frase que a autora deste post sugere que seja impressa nos cartões de visita de Sherlock.

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Moriarty– (Andrew Scott)
Cruel, maquiavélico, lunático e inteligentíssimo Moriarty é o arqui-inimigo, o rival e a nemésis de Sherlock. É um super vilão que toda a gente adora odiar pois como ele próprio esclarece todos os contos de fadas precisam de um vilão à moda antiga.

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Molly Hooper (Loo Brealey)
A Patologista que tem um fraquinho, uma paixão assolapada por Sherlock.
Molly Hooper é a única personagem do elenco que não faz parte do universo original de Sherlock Holmes. Originalmente contratada para uma só cena no primeiro episódio, Loo foi tão engraçada a sua química com Cumberbatch foi tão grande que o público e os autores da série se apaixonaram por ela imediatamente e resolveram desenvolver a sua personagem.
Molly tem um péssimo gosto para Homens, é doce, vulnerável e confia nas pessoas o que a torna um alvo fácil para a manipulação e a língua afiada de Sherlock. Apesar disso, ela é uma das poucas pessoas no mundo que ele respeita e em quem confia incondicionalmente e com o tempo será uma das poucas pessoas a conseguir metê-lo na ordem. Metaforicamente Molly é o coração de Sherlock.
Tem poucas cenas (na opinião da autora deste post) mas todas as suas aparições são absolutamente memoráveis. Quando perguntaram à actriz o porquê do grande sucesso da sua personagem; Loo responderia que “Molly são todas as mulheres que estão em casa na audiência que querem passar as mãos no cabelo de Benedict Cumberbatch”.

(Pela parte que lhe toca a autora deste post não confirma nem desmente essas suposições, nem tem quaisquer comentários a fazer preferindo remeter-se neste ponto específico a um respeitável silêncio).

Sherlock tem até ao momento 3 séries com 3 episódios, cada um com 90 minutos.
Já ganhou inúmeros prémios de público e crítica entre os quais 3 BAFTAS, 3 Critics’ Choice Television Awards, e 7 Emmys.
No Natal de 2015 será exibido um muito aguardado episódio especial que tem lugar entre as séries 3 e 4.

Linda Martini em retrospectiva – Musicbox Noite #1

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Este Mar…  Este Mar… Este Mar… é neste embalo que os Linda Martini nos transportam para a primeira noite da temporada de 3 concertos no Musicbox em Lisboa. Durante 3 noites seguidas vai fazer-se a retrospectiva a 10 anos de música reeditada recentemente e o concerto de hoje esteve reservado para os primeiros EPs Linda Martini (2005) e Marsupial (2008), ou seja, uma noite para raridades e alguns inéditos.

A setlist já se adivinha e arrancam com a primeira do EP Linda Martini: Este Mar, música que dispensa letra mas que bebe desta melancolia tão portuguesa, tão nossa. Ainda embalados pela cadência hipnotizante das suas ondas chega-nos Amor Combate, seguramente uma das mais esperadas por todos e recebida em coro: Se o nosso amor é um combate/ Então que ganhe a melhor parte/ O chão que pisas sou eu/ O nosso amor morreu quem o matou fui eu. Mais do que o seu rock poderoso, a força dos Linda Martini encontra-se nas suas letras, onde as palavras não se unem para preencher um espaço mas para criar toda uma razão. São letras que carregam tristeza e melancolia, que transparecem uma verdade que sem rodeios nos atinge em cheio no peito. Até quem nunca perdeu um amor sabe que muitas vezes é um combate, um combate com o outro, um combate com o mundo, um combate com nós mesmos.

E enquanto nos perdíamos nestes pensamentos, revisitando cantos escuros na nossa alma, já os Linda Martini avançavam para o segundo EP da noite: Marsupial com A Corda do Elefante Sem Corda, onde até quem só chegou aos Linda Martini recentemente, ainda um pouco à margem dos primeiros EPs, acompanha em plenos pulmões o coro final. Sente-se algum nervosismo na banda, talvez por nunca ter tocado algumas destas músicas ao vivo, mas se aconteceu algum engano ninguém reparou. Terminam com o mais belo dos slows: As Putas Dançam Slows com um toque de fado electrificado na guitarra e sina na letra: Despe-se de gente/ Para ninguém entrar/ Não ama quem quer/ Mas quem a quer amar.

Missão cumprida após 2 EPs tocados na íntegra, regressam para um encore generoso, com os êxitos do último trabalho Turbo Lento (2013): Volta, Panteão e Ratos, que fazem um contraste interessante com as suas primeiras músicas que acabámos de ouvir. Embora nos soem mais próximas e limpas, a base está sempre lá, em 10 anos os Linda Martini continuam consistentes e fiéis à sua sonoridade. Pelo meio (não estávamos em Paredes de Coura) mas tivemos direito à “música mais famosa dos Linda Martini”, pelas palavras da baixista Cláudia, Adeus Tristeza, original do emigrante tardio Fernando Tordo, que anunciava a despedida por hoje.

Mas só por hoje porque amanhã será a noite de Olhos de Mongol (2006) e no sábado Casa Ocupada (2010), ambas noites já esgotadas. Os bilhetes para a temporada completa voaram num sopro e quem só conseguiu bilhete para hoje já se arrependeu de não ter estado mais atento, pois esta é uma viagem em que não queremos sair na primeira paragem.

The Judge

the judgeQuero iniciar este post dizendo que o mesmo não é mais do que uma homenagem ao actor Robert Duvall. Robert Duvall é um actor que dispensa apresentações, pois um amante do cinema conhece-o bem de papéis como Lieutenant Colonel Bill Kilgore em Apocalypse Now,  como Tom Hagen na saga O Padrinho ou como Mac Sledge em Amor e Compaixão, cujo papel lhe proporcionou um Oscar para Melhor Actor.
No entanto, enquanto Judge Palmer – o pilar do filme, da família Palmer e da cidade onde desempenha o seu cargo de juiz -, Robert Duvall consegue ser de uma crueza emocional e de um carinho camuflado, de uma fragilidade e de uma dureza incomensuráveis. Uma dualidade e ambivalência de sentimentos que apenas os melhores, através da mestria na sua profissão, conseguem fazer transparecer no ecrã, sem necessitar de recorrer a overactings. É natural e é isso que é profundamente bonito.

Em tempos li algures que Stanley Kubrick acreditava que o casting de um filme era 80% responsável pelo sucesso ou fracasso de um filme, ou seja, se se colocasse o actor certo para aquele papel (e não obrigatoriamente o melhor actor) os astros alinhar-se-iam para que tudo chegasse a bom porto. E honestamente, após ter visto The Judge, não consigo encontrar melhores actores para os papéis de Judge Joseph Palmer (Robert Duvall) e Hank Palmer (Robert Downey Jr.), pois ambos encarnam as suas personagens e a relação entre ambas de uma forma quase simbiótica, atravessando caminhos física e emocionalmente muito pesados, repletos de emoção puramente crua.

Neste filme, o espectador é convidado, então, a assistir essencialmente a uma viagem pela relação conflituosa pai-filho e como esta relação se vai moldando pelas adversidades que lhes são apresentadas, seja a morte da mãe de Hank, a acusação de homicídio a que Judge Palmer é submetido, ou a doença que aparece pelo meio.

Fica, assim, a sugestão de um filme dramático que, sem overactings e sem a excessiva dramatização das personagens, nos consegue transmitir uma bonita lição de amor e de aceitação de quem somos e das pessoas que nos rodeiam, desmistificando a noção de que as dinâmicas familiares e as demonstrações dos laços emotivos têm de ser feitos à sombra do que a sociedade dita que seja. E é minha leitura que é isso que este filme pretende que não nos esqueçamos, do que é único em nós e nos “nossos”.

I my experience, Hank, sometimes you gotta forgive in order to be forgiven.

Filme: The Judge
Director:
David Dobkin
Ano: 2014

“Penny Dreadful”- Os piores demónios são os que vivem dentro de nós

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“Penny Dreadful” era uma espécie de folhetim de ficção publicado em Inglaterra no século XIX em papel barato, que continha histórias sensacionalistas de crime, terror e sangue divididas em diversas partes. Cada uma das partes da história custava 1 penny. Daí o nome penny=moeda de penny +dreadful= horrível.

A série de televisão parte de uma premissa já conhecida e explorada em “A League of Extraordinary Gentlemen” a banda desenhada de culto (e não o filme homónimo que é francamente intragável): pegar num punhado de personagens de livros clássicos da Literatura do Séc. XIX – uma espécie de super heróis da época vitoriana e juntá-los todos numa aventura fantástica.
Como aconteceu com outras séries de luxo da TV cabo “True Detective” e “Fargo” os 8 episódios de Penny Dreadful seriam escritos por um único escritor. O norte-americano John Logan passaria 10 anos a amadurecer e a desenvolver cuidadosamente o seu conceito, a criar um enredo sólido e a conceber um extraordinário estudo do carácter e da personalidade de cada uma das personagens que escolheu.
Em Penny Dreadful, há vampiros, monstros, assassinos, prostitutas, cowboys, cavalheiros, actores, exploradores aventureiros, médiuns, espiritualistas, egiptólogos – um desfilar de personagens da boa e da má ficção da época.
Não querendo revelar a identidade delas (para não estragar a surpresa) direi só que no elenco principal Timothy Dalton é um explorador rico que procura a sua filha desaparecida, Eva Green a médium misteriosa que o auxilia, Josh Hartnett o pistoleiro americano contratado, Billie Piper uma prostituta tuberculosa, Harry Treadaway o médico que é envolvido na busca e Reeve Carney o cavalheiro dandy .
O elenco é impressionante assim como o são as imensas referências literárias utilizadas- que farão salivar de prazer qualquer amante da Literatura Britânica da época vitoriana- desde as mais óbvias “As Minas de Salomão” de H. R. Haggard, “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde; “Frankenstein” de Mary Shelley, a “Dracula” de Bram Stoker, às mais obscuras com piscadelas de olho a escritores como H.P. Lovecraft, Wilkie Collins, Sir Arthur Conan Doyle, Edgar Allan Poe. E há obviamente referências obrigatórias a Shakespeare, Keats e Wordsworth.
Os diálogos são deslumbrantes e a realização é inovadora pois ao contrário do que é habitual nas séries actuais- planos breves e rápidos para manter o espectador sempre em constante tensão- os quatro realizadores da série favorecem os planos longos e ousados que põem a ênfase não só nos actores mas também no excelente texto que estão a dizer.

Quem tem ideias feitas ou preconceitos contra os géneros terror, gótico ou fantástico, faça o favor de os largar. Há uma razão específica para estas histórias com elementos do fantástico e do sobrenatural, povoadas de monstros e criaturas estranhas existirem desde há séculos no nosso imaginário colectivo. Elas reflectem os medos e os anseios da humanidade, as nossas neuroses mais profundas e dão voz aos nossos piores pesadelos.

As personagens de Penny Dreadful lutam, sofrem, amam, ganham, perdem, perdem-se, cada uma delas a combater os seus próprios demónios e fraquezas, cada uma com o seu passado obscuro (que se vai revelando a pouco e pouco na série) vai trilhando o seu próprio caminho para a redenção. Cada uma delas a debater-se com questões de identidade e obcecada com a fragilidade das relações humanas, a tentar ser amado e perdoado e a agarrar-se desesperadamente à sua Humanidade.
Nenhuma mais que a personagem de Caliban interpretado por esse grandessíssimo actor que é Rory Kinnear – que na humilde opinião da autora deste post é um dos melhores actores da sua geração.
Por fim uma nota para Eva Green a magnífica e exuberante Vanessa Ives, mulher à volta do qual gravitam todos os personagens masculinos, sem concessões nem favores, esta é simplesmente a personagem feminina mais forte, bem pensada e bem desenvolvida que uma série de TV nos mostrou nos últimos anos.

Como a própria literatura fantástica, Penny Dreadful atrai-nos com elementos sobrenaturais e promessas de aventuras excitantes e misteriosas. Tem uma vertente sexual muito forte se bem que extremamente bem contextualizada, tem violência, sangue e tripas, monstros e demónios mas está muito mais interessada em explorar as fragilidades humanas e em revelar o monstro que há no coração de cada um de nós.

Num determinado ponto da história, ao trazer Hartnett para o mundo negro onde se irá travar a batalha Timothy Dalton avisa-o:

“Do not be amazed by anything you see.

ou na língua de Camões ” Não se espante com nada do que vai ver aqui.”

Eu diria exactamente o contrário: Espantem-se com tudo o que vão ver aqui, e entrem sem medos e sem preconceitos no mundo de Penny Dreadful- ali na fronteira entre a vida e a morte, o natural e o sobrenatural. O enredo vai agarra-lo logo ao primeiro minuto, a história que avança sempre num grande ritmo com cliffhangers, surpresas e revelações dramáticas, fará com que salte do sofá e roa as unhas até ao sabugo à espera do próximo episódio e a pensar o que é que raio andava a fazer de tão importante na sua vida para ainda não ter visto esta série.

Penny Dreadful estreou a 11 de Maio de 2014 no canal Showtime e de imediato criou uma imensa minoria de fãs que lhe prestam um culto merecido.
A sua muito aguardada segunda temporada estreará a 3 de Maio de 2015.

À sexta estou…

… Solidária.

Solidária com a associação Dê Mais Coração – Movimento Daniela. Esta é uma associação sem fins lucrativos que visa ajudar crianças moçambicanas carenciadas a ter acesso aos cuidados de saúde que necessitam para viver. É uma missão ainda mais nobre quando nos apercebemos que este movimento foi criado para homenagear e manter viva a memória de Daniela que faleceu devido a complicações cardíacas.

Quem já passou pelo Rossio certamente já reparou que há por lá uma estrutura muito reluzente a dizer LOVE. Pois bem, essa estrutura faz parte da iniciativa “Amor em Lisboa” e é um local onde qualquer pessoa pode declarar o seu amor ao adquirir um cadeado por 3€ (que reverte inteiramente a favor desta associação) e colocá-lo na estrutura, tal como se faz nas pontes por essa Europa fora (sendo a de Paris a mais conhecida).

No entanto, só têm até amanhã, 14 de Março para fazê-lo! Aproveitem estes dias primaveris para dar um passeio à baixa lisboeta, parem na praça do Rossio, comprem um cadeado e manifestem o vosso amor! E como se isso não bastasse, ainda vão poder assistir a um concerto dos Projecto Bug, uma banda bastante divertida composta por 14 elementos que são, ao mesmo tempo, personagens por eles encarnadas. Não é fácil descrever o estilo dos Projecto Bug, o que é fácil é garantir que vai ser um excelente espectáculo com músicos de grande qualidade, sempre com uma pitada de humor à mistura.

Estrutura em ferro na fase inicial, sem cadeados.

Estrutura em ferro, ainda sem cadeados.

Amor, sol, música e humor… estão reunidos todos os elementos necessários para uma tarde muito bem passada!

A Dave Matthews Band regressa a Portugal: Obrigado very very much!

Dave Matthews Band

Com data marcada para 11 de Outubro na MEO Arena em Lisboa, a Dave Matthews Band regressa após 6 anos de espera sofrida desde o último concerto em Portugal.

Se em 2007 a surpresa foi geral, agora o regresso da Dave Matthews Band era quase obrigatório, sobretudo após a última tour europeia de 2010 que não incluiu Portugal, obrigando fãs portugueses a viajar por outras cidades da Europa (convém já explicar que a autora deste artigo se inclui nesse grupo, o que pode justificar algum do entusiasmo exacerbado no texto que se segue).

David John Matthews, músico sul africano, conheceu o saxofonista LeRoi Moore e o baterista Carter Beauford no bar onde trabalhava na pacata cidade americana de Charlottesville e juntos, provavelmente entre um copo ou mais de bourbon, decidiram formar uma banda. Pouco tempo depois juntou-se o baixista Stefan Lessard e o violinista Boyd Tinsley e passados 24 anos confirma-se o sucesso inquestionável de uma das bandas com mais horas de palco de sempre, conhecida pelos seus jams extasiantes onde músicas de 5 minutos facilmente se prolongam por quase meia hora.

Estabeleceram uma sólida base de fãs nos Estados Unidos, na década de 90 quando a Internet era ainda uma miragem, pela troca de tapes, gravações amadoras dos seus concertos ao vivo, que os lançaram na rampa para os tops americanos. Percorreram extensos quilómetros de estrada no continente americano onde todos os anos, sem interrupções, realizam uma abrangente tour de Verão, o que explica a relação tão fiel entre a banda e os seus fãs.

Embora sobejamente reconhecidos na América, em Portugal pareciam ser um segredo orgulhosamente guardado por alguns, até à enorme surpresa em 2007 quando se percebeu que o segredo era afinal partilhado por muitos, onde o ainda Pavilhão Atlântico se encheu com 18000 vozes para receber a Dave Matthews Band em pura histeria. Quem lá esteve não esquecerá seguramente a perplexidade da banda, que mesmo habituada a estádios lotados, não sabia como reagir à intensidade deste louco público português que explodia a cada música. Ficam-nos na memória os sorrisos de cumplicidade entre os membros da banda e as expressões do Dave: “You’re the livest audience we’ve ever seen! Damm!!”, “Don’t kiss me or I might move here with you!”, “Obrigado very very much!!”

O concerto de Lisboa em 2007 foi tão memorável que saiu em disco físico para a série de edições ao vivo que a banda costuma editar, os chamados Live Trax, neste caso o Live Trax 10, tendo sido o primeiro a ser editado fora de solo americano, o que causou alguma azia americana… Quando entrevistado uns anos depois já no regresso em 2009, como cabeças de cartaz para o NOS Alive, Dave recordou a noite no Atlântico como um momento crucial para a banda que os ajudou a ultrapassar um período conturbado e de alguma desilusão que então atravessavam.

Após a “fartura” de dois concertos em tão pouco tempo é normal que reinasse já alguma impaciência nos fãs portugueses ao perceber que a banda agora se dispersava em tours um pouco por todo o mundo, sem sequer piscar os olhos a Portugal. E acredito que após algumas mensagens intimidantes (eu pelo menos conheço uma ou duas pessoas capazes disso) a promotora Everything is New não tenha tido outra opção senão trazer novamente a Dave Matthews Band ao nosso país.

Quem perdeu os dois concertos anteriores este ano não tem desculpa, assistir à Dave Matthews Band é obrigatório para qualquer entusiasta de música ao vivo. A sinergia e cumplicidade da banda em palco é contagiante e este ano apresentam-nos um novo formato dividido em dois sets: um acústico e um normal. Com a banda vão estar também: no saxofone o virtuoso Jeff Coffin, no trompete a muralha Rashawn Ross e na guitarra eléctrica e acústica o alien Tim Reynolds. A corrida aos bilhetes já começou e a aposta forte na publicidade com cartazes por toda a cidade, promoções na Fnac, anúncios na rádio e televisão apontam para um concerto esgotado em breve, que faz com que os mais optimistas sonhem com a possibilidade do anúncio de uma segunda data. Eu nestas situações não gosto de correr riscos e claro que já tenho o meu bilhete e vocês?

Wild: A Journey from lost to found

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Wild é a adaptação cinematográfica do livro autobiográfico de Cheryl Strayed, Wild: A journey from lost to found on the Pacific Crest Trail. O filme, de 2014, mereceu uma nomeação ao Oscar de Melhor Actriz a Reese Witherspoon mas, no entanto, parece não merecer ser estreado nas nossas salas de cinema. Cabe assim ao espectador esperar que o filme apareça no clube de vídeo da sua box ou então vê-lo num website de streaming de filmes (mas não leram isso de nós 😉 ).

O filme inicia-se a meio do caminho do Pacific Crest Trail (PCT), caminho este que liga a fronteira dos Estados Unidos com o Canadá à fronteira com o México. Lá, Cheryl, a personagem tão bem interpretada por Reese Witherspoon, encontra-se numa situação de puro desespero. Depois de largos quilómetros caminhados repletos de adversidades, especialmente para uma caminhante amadora como ela, vemo-la numa imagem um tanto ou quanto gore a arrancar uma unha do pé que já estava infectada de tanto ter andado com umas botas demasiado pequenas para os seus pés. Como se isso não bastasse, fica sem uma bota que cai pela montanha abaixo. A partir desta cena, voltamos ao início da viagem: ao motel onde Cheryl pernoita pela primeira vez antes de seguir caminho pelo PCT. Assistimos à luta epopeica de Cheryl com a sua mochila ao carregá-la com tudo o que era necessário e também acessório. Apenas mais tarde ela aprende a desprender-se do acessório, como se dos pesos metafóricos que carregava nos seus ombros se tratasse. Até lá, a Monster – alcunha dada à mochila devido à sua enormidade – é a sua maior companheira viagem adentro. Ao longo do percurso do PCT, são-nos mostrados flashbacks da sua vida anterior, da sua relação com a sua mãe, com o seu marido ou mesmo com o seu irmão… E também como tudo se foi desmoronando a partir do momento em que foi diagnosticado um cancro à sua mãe, levando inevitavelmente à sua morte. A partir deste período até ao momento em que Cheryl dá o primeiro passo no PCT, inicia-se aquele que é o período mais negro e auto-destrutivo da vida daquela mulher que mais aparentava ser uma menina desamparada sem saber para onde ir. Até que decide percorrer o PCT sozinha. Acompanhamos, assim, as aventuras de uma backpacker amadora, os encontros e desencontros com outros “colegas” caminhantes e o percurso mais longo e doloroso deles todos: o que tinha de ser feito dentro de si. Estamos perante uma mulher cuja bússola interna se encontra sem norte mas que, para emendá-la, precisa de seguir em frente. Nem que para isso tenha de preencher o corpo de nódoas negras, de perder unhas dos dedos dos pés, de perder uma das suas botas, de saltar parte do percurso por causa da neve ou de questionar por diversas vezes “o que é que eu estou aqui a fazer?”. Mas ao fim e ao cabo, são todas estas dúvidas que o caminho lhe coloca, todas estas desventuras e adversidades que a ajudam, finalmente, a perdoar-se e a encontrar-se.

How wild it was to let it be.

E no final do filme, pergunto-me se cada backpacker que há por esse mundo fora partiu também com o coração às costas. Se o guarda na mochila fechado às sete chaves ou se o usa como uma medalha de honra, com todas as cicatrizes provenientes de cada guerra do amor. Se o deixou na sua terra em pedaços e, por isso, partiu em busca de adesivo ou de uma agulha e de linha para conseguir remendá-lo. E se assim foi, se conseguiu remendá-lo com todas as cores do mundo como se de uma manta de retalhos se tratasse. Ou se a cor mais garrida era a que ficou na sua terra. Pergunto-me isto sobre os backpackers porque quem parte à procura de nada é porque tem o seu tudo na sua terra. Ou teve.

Filme: Wild
Director: Jean-Marc Vallée
Ano: 2014

Rapunzel a soltar o seu cabelo para Dave Matthews

A história da princesa Rapunzel- prisioneira numa torre alta que solta o seu longo cabelo louro numa trança para permitir ao príncipe ir ter com ela – tocou forte o imaginário de Dave Matthews.

Ao contrário das outras princesas dos contos de fadas apesar de estar presa Rapunzel não está à mercê de nenhum homem que a queira beijar para a libertar. Ela tem uma liberdade que as outras não têm – a liberdade de escolha- é ela que decide se quer ou não que o príncipe vá ter com ela. A última palavra é sempre dela e o Amor nunca acontecerá sem o seu consentimento.

Como Dave Matthews sabe é a Mulher que escolhe o homem que a escolherá e só quando é escolhido ele terá liberdade para agir,  o amor e a paixão dela motivam-no a lutar e a demonstrar o seu valor e a sua coragem e a ser o homem que é leal para com a mulher que nele confia. Por ela Dave Matthews será príncipe que mata dragões, Sir Lancelot a lutar por Guinevere, descerá aos Infernos como Orfeu por Eurídice e morrerá como Romeu por Julieta.

“Good they locked the door” cantará com a secreta satisfação de um homem apaixonado que sabe que quando se ama alguém os obstáculos ao Amor são achas atiradas a uma fogueira- em vez de matarem o Amor as contrariedades só o fazem arder com mais intensidade.

O Amor dá asas aos amantes. Assim não há muro demasiado alto, masmorra demasiado escura, cadeado suficientemente forte, ou pai furioso com caçadeira nas mãos que possam impedir um homem apaixonado de chegar à mulher que o quer.

Nota: Como não podia deixar de ser o meu primeiro texto neste blog é sobre uma canção da Dave Matthews Band. Talvez não seja coincidência eu andar às voltas com umas ideias desordenadas sobre a Rapunzel – que foi uma feminista antes de haver feminismo- e este texto ser publicado no Dia Internacional da Mulher. “O Universo raramente é assim tão preguiçoso”.Por isso um texto sobre uma princesa dedicado a outras 3 princesas que vão escrever neste blog e que são uma fonte de inspiração e alegria, que valorizam o processo criativo e abertura à mudança e ao Dave Matthews que é um daqueles raros homens que compreende intuitivamente as Mulheres.