A ressurreição ou a vida depois da morte dos Death From Above 1979

Não foi ao terceiro dia, mas sim cinco anos após a sua separação, que os Death From Above 1979 (DFA79) ressuscitaram para um regresso há muito sonhado pelos fãs da banda canadiana fenómeno de Toronto de dance-punk-noise-rock. O documentário Life After Death From Above 1979, estreado em Outubro de 2014 e que passou pela edição deste ano do Indie Lisboa no Cinema São Jorge, é um retrato cru e directo de como a música uniu, separou e reuniu, os amigos de infância Jesse Keleer e Sebastian Grainger, baixista e baterista/vocalista, respectivamente, do duo DFA79, a banda que no início da década dos noughties rasgou a atmosfera musical como um meteorito, que teve tanto de brilho como de fugaz.

São as cenas do motim e do tumulto criado pelo público no concerto surpresa de reunião da banda, no festival SxSW (South by Southwest) de 2011, em Austin no Texas, que dão o mote para o início do documentário e que revelam um pouco do fenómeno que são os DFA79. Em completo descontrolo os fãs derrubam barreiras policiais para tentar ver o impossível, o regresso inesperado da banda aos palcos, num concerto de aquecimento para o mítico festival de música americano Coachella na Califórnia, que se seguiria semanas após e que foi o motivo para o regresso da banda, após cinco anos de separação e de projectos a solo, musicalmente e esteticamente muito diferentes dos DFA79. O baixista Jesse Keleer terá sido o que mais se afastou do som dos DFA79 após a ruptura explorando a sua veia electrónica, juntamente com Al-P, antigo produtor da banda, formou o duo MSTRKRFT (pronunciado como “Master-craft”), banda que encontrou grande sucesso no universo EDM (Electronic Dance Music). E se o caminho da electro house seguido por Jesse desiludiu muitos dos fãs do rock de atitude punk dos DFA79, a coisa não correu muito melhor ao baterista e vocalista Sebastian Grainger que parece ter desaparecido completamente do mapa quando encontrou conforto no indie rock banal do seu álbum a solo Sebastian Grainger & The Mountains.

A separação aconteceu em 2006, apanhando os fãs de surpresa, já que o ano anterior tinha sido de consagração quando os DFA79 eram apelidados pela imprensa musical como the next big thing, após o álbum estreia You’re a Woman, I’m a Machine de 2004, trabalho amplamente elogiado e fresco, o chamado break-up album, porque até os rapazes mais punks e duros têm por vezes o coraçãDeath From Above 1979o partido. Entre 2001 e 2005 deram 546 concertos, estiveram em tour nos Estados Unidos com os gigantes Queens of The Stone Age e os Nine Inch Nails e cruzaram oceanos até à Europa e Ásia, estabelecendo uma curiosa base de fãs no Japão. Começaram como tantas outras bandas, dois amigos que chegados àquela idade em que todos os jovens têm de decidir o seu futuro, escolheram o menos seguro: formar uma banda. O nome surgiu de uma t-shirt com o lema dos pára-quedistas de guerra e o 1979, ano de nascimento de Sebastian, foi mais tarde acrescentado após uma disputa feita de processos litigiosos e insultos na internet, ao bom estilo punk, dirigidos a James Murphy (LCD Soundsystem) cuja editora tinha o mesmo nome.dfa2

O que torna os DFA79 tão especiais? Serão as suas actuações ao vivo carregadas de intensidade onde se sente aquela urgência primal do rock? Será a simplicidade de ver dois amigos em cima de um palco com um baixo e uma bateria que nos dão a ilusão de que aquilo está ao alcance de qualquer um de nós? Afinal esta fórmula continua a dar resultados e até já há quem se divida em rivalidades entre os regressados DFA79 e o mais recente fenómeno do Reino Unido os Royal Blood, disputa essa que parece só existir na cabeça dos fãs de uns e outros, já que as suas semelhanças passam talvez por serem ambas bandas constituídas por um baixista e um baterista.

E o que leva afinal estes dois bons amigos a terminar uma relação de anos, logo no momento em que atingem sucesso à escala mundial, algo que tantas bandas ambicionam? Este documentário vem dar essa resposta ao público dos DFA79, com testemunhos de Kurt Ville, de membros dos Justice, Metric, The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, que acompanharam o crescimento galopante da banda. É um documentário pessoal, sem filtros e honesto, onde Jesse e Sebastian falam abertamente dos seus medos e inseguranças, enquanto pessoas e artistas, e do seu amadurecimento ao longo dos anos, em que construíram famílias e se aventuraram em diferentes caminhos musicais. E no final temos a sua reunião que, através do perdão das falhas do passado, fez com que uma das bandas mais incríveis da última década voltasse aos palcos e a um novo álbum editado em 2014 The Physical World, afinal It’s the same old song. Just a different tune.

Trailer:

Documentário: Life After Death From Above 1979
Realização: Eva Michon
Ano: 2014